Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2016

A Bela e a Fera

Imagem
ERA UMA VEZ um rico negociante que vivia com seus seis filhos, três rapazes e três  moças. Sendo um homem inteligente, não poupou despesas na educação dos  filhos, dando-lhes excelente instrução. Suas filhas eram muito bonitas, mas a  caçula principalmente despertava grande admiração. Quando era pequena, só a  chamavam “a bela menina”. Assim foi que o nome “Bela” pegou – o que deixava  suas irmãs muito enciumadas. Essa caçula, além de mais bela que as irmãs, era também melhor que elas. As  duas mais velhas se orgulhavam muito de ser ricas. Davam-se ares de grandes  damas e não queriam receber visitas das outras filhas de comerciantes. Só  gostavam da companhia de gente da nobreza. Todos os dias iam ao baile, ao  teatro, saíam a passeio e zombavam da caçula, que ocupava a maior parte de seu  tempo lendo bons livros. Como se sabia que as moças eram muito ricas, vários negociantes ricos as  pediam em casamento. Mas as duas mais velhas respondiam que nunca se  casariam, a menos que

As lebres, as raposas e as águias

Imagem
Uma vez as lebres se meteram numa guerra longa e feroz com as águias e viram que não iam conseguir vencer suas inimigas se não conseguissem ajuda. Diante disso, foram conversar com as raposas para ver se queriam fazer uma aliança com elas contra as águias. As lebres ficaram felizes quando as raposas responderam educadamente que gostariam muito de ajudá-las em tudo que fosse possível. Só que a alegria das lebres durou pouco, pois as raposas continuaram dizendo, com igual sinceridade, que também eram muito amigas das águias. Moral: Só é possível uma sociedade quando os dois parceiros estão unidos em torno de uma mesma causa.                                                                                                 Esopo

O Duende da Mercearia

Imagem
Era uma vez um estudante, um autêntico estudante; vivia num sótão e não possuía nada. E era uma vez um merceeiro, um autêntico merceeiro; vivia no rés-do-chão e era dono do prédio inteiro. E foi por isso que o duende decidiu morar com o merceeiro. Além disso, todos os Natais recebia uma tigela de papa de aveia com um grande pedaço de manteiga lá dentro. O merceeiro tinha posses para isso, de maneira que o duende continuava a morar na loja. Há por aqui algures uma moral, se a procurarem bem. Uma noite, o estudante entrou na mercearia pela porta das traseiras para comprar um pedaço de queijo e velas. Fez as compras e depois pagou, e o merceeiro e a mulher acenaram-lhe com a cabeça e disseram «boa noite». A mulher, contudo, era bem capaz de fazer mais do que acenar; era muito faladora — falava, falava, falava. Tinha o que se chama o hábito de falar pelos cotovelos, disso não havia dúvida. O estudante também fez um aceno — e foi nessa altura que viu qualquer coisa escrita no papel q

O Livro mudo

Imagem
Junto à estrada, no meio do bosque, havia uma quinta solitária. Entrava-se pelo portão, até ao terreiro banhado pelo Sol e com todas as janelas abertas. Havia vida e movimento lá dentro, mas no pátio, numa ramada de lilases florescentes, estava um caixão aberto. O morto fora colocado ali porque naquela manhã ia ser enterrado. Ninguém o olhava com lamentações, ninguém o chorava. O seu rosto estava coberto com um pano branco e sob a sua cabeça fora colocado um livro grande e espesso, cujas folhas, soltas, eram de papel cinzento e entre cada uma delas estavam, guardadas e esquecidas, flores fanadas, todo um herbário colhido em lugares diferentes. Devia ir para a sepultura também, porque o tinha pedido o próprio falecido. A cada flor estava ligado um capítulo da sua vida. – Quem é o morto? – perguntamos nós, e a resposta foi: o velho estudante de Uppsala! Tinha sido diligente. Tinha conhecido a linguagem dos sábios, tinha sabido cantar, sim, e também escrever canções, disse-se, m

As velas de sebo

Imagem
Aquilo chiava e fervia enquanto o fogo dançava debaixo do caldeirão; era o berço da vela de sebo e do interior do berço cálido surgiu a vela perfeita, elegante, brilhando branca e esguia. A julgar por seu aspecto, todos os que a contemplavam se convenciam de que ali estava a promessa de um futuro feliz e radioso --uma promessa que, como todos viam muito bem, ela não deixaria de cumprir. A ovelha uma linda ovelhinha era a mãe da vela, enquanto o caldeirão onde se derretia o sebo era seu pai. Da mãe ela herdara o admirável corpo branco e uma certa noção da vida; mas do pai recebera o desejo de ter uma chama ardente, capaz de penetrar medula e ossos e de "brilhar" vida afora. Contudo, acreditava demais no mundo; e o mundo só se interessa por si mesmo, não quer saber de velas de sebo... Porque, incapaz de entender qual era a finalidade da vela, o mundo tratou de usá-la em proveito próprio e manuseou-a de forma errada, sem cuidado; seus dedos sujos foram manchando cada v

O Trigo mourisco

Imagem
Muitas vezes, após uma trovoada, ao passar-se por um campo de trigo mourisco, pode ver-se como ficou todo chamuscado. É como se o fogo tivesse passado por ele e o camponês dá-nos a explicação seguinte: "Foi um raio!" Mas porquê? Pois vou contar-lhes o que disse a um pardal um velho salgueiro que se encontrava perto dum campo de trigo mourisco e ainda lá está. É um salgueiro grande e venerável, mas enrugado e velho, um pouco rachado ao meio, com uma fenda onde crescem ervas e sarças. A árvore está um pouco tombada para a frente, e os ramos pendem para o solo, como se fossem uma longa cabeleira verde. Em toda a volta havia campos de cereal, de centeio, de cevada e de aveia, a bela aveia que, quando está sazonada, parece um enorme bando de pequeninos canários amarelos pousados num ramo. Os cereais são assim uma bênção de Deus e quanto mais pesados estão, mais baixos se inclinam em humildade. Mas havia também um campo de trigo mourisco, bem perto do velho salgueiro, que n