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Mostrando postagens de setembro, 2016

O conto da ilha desconhecida

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José Saramago Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O s

Calor

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O rapaz vinha do rio. Descalço, com as calças arregaçadas acima do joelho, as pernas sujas de lama. Vestia uma camisa vermelha, aberta no peito, onde os primeiros pelos da puberdade começavam a enegrecer. Tinha o cabelo escuro, molhado de suor que lhe escorria pelo pescoço delgado. Dobrava-se um pouco para a frente, sob o peso dos longos remos, donde pendiam fios verdes de limos ainda gotejantes. O barco ficou balouçando na água turava, e ali perto, como quem espreita, afloraram de repente os olhos globulosos de uma rã. O rapaz olhou-a, e ela olhou-o a ele. Depois a rã fez um movimento brusco, e desapareceu. Um minuto mais e a superfície do rio ficou lisa e calma, e brilhante como os olhos do rapaz. A respiração do lodo desprendia lentas bolhas de gás que a corrente arrastava. No calor da tarde, os choupos altos vibraram silenciosamente, e de rajada, como uma flor rápida que do ar nascesse, uma ave azul passou rasando a água. O rapaz levantou a cabeça. No outro lado do rio, uma

A Maior Flor do Mundo

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As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples… Quem me dera saber escrever essas histórias… Se eu tivesse aquelas qualidades, poderia contar, com pormenores, uma linda história que um dia inventei… Seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas… Havia uma aldeia… e um menino.… … Sai o menino pelos fundos do quintal, e, de árvore em árvore, como um pintassilgo, desce o rio e depois por ele abaixo… Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventurara sozinho. Dali para diante começava o “planeta Marte”. Dali para diante, para o nosso menino, será só uma pergunta: «Vou ou não vou?» E foi. O rio fazia um desvio grande, afastava-se, e de rio ele estava já um pouco farto, tanto que o via desde que nascera. Resolveu cortar a direito pelos campos, entre extensos olivais, ladeando misteriosas sebes cobertas de campainhas brancas, e outras vezes metendo pelos bosques de al

Chapeuzinho vermelho

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Era uma vez uma garotinha que tinha que levar pão e leite para sua avó. Enquanto caminhava alegremente pela floresta, um lobo apareceu e perguntou-lhe onde ia. - À casa da vovó - respondeu ela prontamente. O Lobo muito esperto, chegou primeiro à casa, matou a vovó, colocou seu sangue numa garrafa, fatiou sua carne num prato, comeu e bebeu satisfatoriamente, guardou as sobras na despensa, colocou sua camisola e esperou na cama. Toc. Toc. Toc. Soou a porta. - Entre, minha querida - disse o lobo. - Eu trouxe o pão e o leite para a senhora, vovó - respondeu Chapeuzinho Vermelho. - Entre minha querida. E coma algo, tem carne e vinho na despensa - disse o lobo. A Menina comeu o que lhe foi oferecido, e enquanto comia o gato de sua vó a observava aos murmúrios: -"Meretriz! Então, comes a carne e bebes o sangue de tua avó com gosto. Ata teu destino ao dela." Então o Lobo disse: Dispa-se e venha para cama comigo - O que faço com meu vestido? - questionou Ch

As Fadas

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Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha era tal e qual a mãe, tanto na aparência como no mau feito. Eram ambas tão mal-humoradas e orgulhosas que ninguém podia viver com elas. A mais nova, pelo contrário, era gentil, boa e muito linda. Era tal e qual o pai. Como cada um prefere o seu igual, a mãe gostava muito da mais velha e detestava a mais nova, obrigando-a a tomar as refeições na cozinha e a trabalhar o dia todo. Entre outras tarefas, a pobre menina tinha que ir duas vezes por dia buscar água a uma fonte que ficava a meia milha de distância. De regresso, vinha carregada com a bilha cheia de água. Certo dia, quando estava na fonte, acercou-se dela uma pobre mulher que lhe implorou um pouco de água. - Sim, avozinha – respondeu a menina delicadamente. Lavou cuidadosamente a bilha, encheu-a no sítio onde a água era mais límpida e ofereceu de beber à velhinha, segurando na bilha para que ela pudesse beber com calma. Depois de saciar a sede, a boa senhora

Pele de asno

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  Era uma vez um boníssimo rei, a quem o povo muito amava e os vizinhos muito respeitavam, sendo por isso o rei mais feliz do mundo. Além do mais, ele teve a sorte de casar-se com uma princesa linda e igual virtuosa que lhe deu apenas uma filha, porém tão encantadora, que os pais viviam num verdadeiro êxtase. No palácio real, havia abundância de tudo e muito bom gosto. Os ministros eram muito sagazes e habilidosos, os cortesão, muito dedicados, e os empregados, muito leais. Na grande estrebaria, havia os mais soberbos cavalos jamais vistos e com os melhores arreios, embora todos estranhassem que o mais importante animal fosse um asno com orelhas compridíssimas . Mas não fora por um mero capricho que o rei lhe dera tamanha distinção. O asno era merecedor de todas as regalias e honras, pois, na verdade, se tratava de um asno com poderes mágicos. Todo dia, ao nascer do sol, a sua baia estava coberta de moedas de ouro, que o rei mandava colher. Mas como a vida não é para sempre

Desejos ridículos

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Era uma vez um pobre lenhador que, cansado de sua vida dura, ansiava por descanso no futuro. Em sua infelicidade, ele declarou que, em todos os seus dias, o céu não havia concedido nem ao menos um de seus desejos. Um dia, trabalhando na floresta e reclamando de sua sorte infeliz, Júpiter apareceu diante dele com seus raios e trovões em mãos. Seria difícil imaginar o terror do pobre homem. - Eu não quero nada, disse ele, jogando-se no chão.  - Vou desistir de meus desejos se você, por sua vez, largar o seu trovão. Seria uma troca justa!  - Não tenha medo, disse Júpiter. “Eu ouvi as suas queixas e eu vim para mostrar-lhe como me julga injustamente. Escute, eu sou o rei do mundo inteiro e eu prometo conceder-lhe três desejos, não importa o que seja. Como a sua felicidade depende deles, pense com cuidado antes de desejar-los. Com estas palavras, Júpiter retornou aos céus e o lenhador, carregando o seu fardo de varetas, correu para casa. A carga do fardo nunca lhe pareceu tão