Dez princípios para um bom professor
Eis então os dez passos na direção de uma
pedagogia do desenvolvimento humano:
1. Aprimorar
o educando como pessoa humana. A nossa grande tarefa como professor ou educador
não é a de instruir, mas a de educar nosso aluno como pessoa humana, como
pessoa que vai trabalhar no mundo tecnológico, mas povoado de corações, de
dores, incertezas e inquietações humanas.
A escola não pode se limitar a educar pelo conhecimento destituído da
compreensão do homem real, de carne e osso, de corpo e alma.
De nada adianta o conhecimento bem ministrado em sala de aula, se fora da
escola, o aluno se torna um homem brutalizado, desumano e patrocinador da
barbárie. Educamos pela vida como perspectiva de favorecer a felicidade e a paz
entre os homens.
2. Preparar
o educando para o exercício da cidadania. Se de um lado, primordialmente,
devemos ter como grande finalidade do nosso magistério o ministério de fazer o
bem às pessoas, fazer o bem é preparar nosso para o exercício exemplar e pleno
da cidadania. O cidadão não começa quando os pais registram seus filhos no
cartório nem quando os filhos, aos dezoito anos, tiram suas carteira de
identidade civil, a cidadania começa na escola, desde os primeiros anos da
educação infantil e se estende à educação superior, nas universidades; começa
com o fim do medo de perguntar, de inquirir o professor, de cogitar outras
possibilidades do fazer, enfim, quando o aluno aprende a fazer fazer, a
construir espaço de sua utopia e criar um clima de paz e bem-estar social,
política e econômico no meio social.
3. Construir
uma escola democrática. A gestão democrática é a palavra de ordem na
administração das escolas. Os educadores que atuarão no novo milênio devem ter
na gestão democrática um princípio em que não arredam pé, não abrem mão. Quanto
mais a escola for democrática, mais transparente. Quanto mais a escola é
democrática, menos erra, tem mais acerto e possibilidade de atender com
eqüidade as demandas sociais. Quanto mais exercitamos a gestão democrática nas
escolas, mais no preparamos para a gestão da sociedade política e civil
organizada.
Aqui, pois, reside uma possibilidade concreta: chegar à universidade e concluir
um curso de educação superior e estar preparado para tarefas de gestão na
governo do Estado, nas prefeituras municipais e nos órgãos governamentais. Quem
exercita a democracia em pequenas unidades escolares, constrói um espaço
próprio e competente para assumir responsabilidades maiores na estrutura do
Estado. Portanto, quem chega à universidade não deve nunca descartar a
possibilidade de inserção no meio político e poder exercitar a melhor política
do mundo, a democracia.
4. Qualificar
o educando para progredir no mundo do trabalho. Por mais que a escola
qualifique seus recursos humanos, por mais que adquira o melhor do mundo
tecnológico, por mais que atualize suas ações pedagógicas, era sempre estará
marcando passo frente às novas transformações cibernéticas, mas a escola,
através de seus professores, poderá qualificar o educando para aprender a
progredir no mundo do trabalho, o que eqüivale a dizer a oferecer instrumentos
para dar respostas, não acabadas ( porque a vida é processo inacabado) às novas
demandas sociais, sem medo de perdas, sem medo de mudar, sem medo de se
qualificar, sem medo do novo, principalmente o novo que vem nas novas ocupações
e empregabilidade.
5. Fortalecer
a solidariedade humana. É papel da escola favorecer a solidariedade, mas não a
solidariedade de ocasião, que nasce de uma catástrofe, mas do laço recíproco e
cotidiano e de amor entre as pessoas. A solidariedade que cabe à escola ensinar
é a solidariedade que não nasce apenas das perdas materiais, mas que chega como
adesão às causas maiores da vida, principalmente às referentes à existência humana.
Enfim, é na solidariedade que a escola pode desenvolver, no aluno-cidadão, o
sentido de sua adesão às causas do ser e apego à vida de todos os seres vivos,
aos interesses da coletividade e às responsabilidades de uma sociedade a todo
instante transformada e desafiada pela modernidade.
6. Fortalecer
a tolerância recíproca. Um dos mais importantes princípios de quem ensina e
trabalha com crianças, jovens e adultos é o da tolerância, sem o qual todo
magistério perde o sentido de ministério, de adesão aos processos de formação
do educando. A tolerância começa na aceitação, sem reserva, das diferenças
humanas, expressas na cor, no cheiro, no falar e no jeito de ser de cada
educando. Só a tolerância é capaz de fazer o educador admitir modos de pensar,
de agir e de sentir que diferente dos de um indivíduo ou de grupos
determinados, políticos ou religiosos.
7. Zelar
pela aprendizagem dos alunos. Muitos de nós professores, principalmente os do
magistério da educação escolar, acreditam que o importante, em sala de aula, é
o instruir bem, o que pode ser traduzido, ter domínio de conhecimento da
matéria que ministra na aula. No entanto, o domínio de conhecimento não deve
estar dissociado da capacidade de ensinar, de fazer aprender. De que adiante e
conhecimento e não saber, de forma autônoma e crítica, aplicar as informações? O
conhecimento não se faz apenas com metalinguagem, com conceitos a, b ou c, e
sim, com didática, com pedagogia do desenvolvimento do ser humano, sua mediação
fundamental. O zelo pela aprendizagem passa pela recuperação daqueles que têm
dificuldade de assimilar informações, sejam por limitações pessoais ou sociais.
Daí, a necessidade de uma educação dialógica, marcada pela troca de idéias e
opiniões, de uma conversa colaborativa em que não se cogita o insucesso do
aluno. Se o aluno fracassa, a escola também fracassou. A escola deve riscar do
dicionário a palavra FRACASSO. Quando o aluno sofre com o insucesso, também
fracassa o professor. A ordem, pois, é fazer sempre progredir, dedicar-se mais
do que as horas oficialmente destinadas ao trabalho e reconhecer que nosso
magistério é missão, às vezes árdua, mas prazerosa, às vezes sem recompensa
financeira condigna que merecemos, mas que pouco a pouco vamos construindo a
consciência na sociedade, principalmente a política, de que a educação, se não
é panacéia, é o caminho mais seguro para reverter as situações mais
inquietantes e vexatórias da vida social.
8. Colaborar
com a articulação da escola com a família. O professor do novo milênio deve ter
em mente que o profissional de ensino não é mais pedestal, dono da verdade,
representante de todos os saberes, capaz de dar respostas para tudo.
Articular-se com as famílias é a primeira missão dos docentes, inclusive para
contornar situações desafiadoras em sala de aula. Quanto mais conhecemos a
família dos nossos alunos, mais os entendemos e mais os amamos. Uma criança
amada é disciplinada. Os pais, são, portanto, coadjuvantes do processo
ensino-aprendizagem, sem os quais nossa ensinança fica coxa, não vai adiante,
não educa. A sala de aula não é sala-de-estar do nosso lar, mas nada impede que
os pais possam ajudar nos desafios da pedagogia dos docentes nem inoportuno é
que os professores se aproximam dos lares para conhecerem de perto a realidade
dos alunos e possam juntos, pais e professores, fazer a aliança de uma
pedagogia de conhecimento mútuo, compartilhado e mais solidário.
Participar ativamente
da proposta pedagógica da escola. A proposta pedagógica não deve ser
exclusividade dos diretores da escola. Cabe ao professor participar do processo
de elaboração da proposta pedagógica da escola até mesmo para definir de forma
clara os grandes objetivos da escola para seus educandos. Um professor que não
participa, se trumbica, se perde na solidão de suas aulas e não tem como
pensar-se como ser participante de um processo maior, holístico e globalizado.
O mundo globalizado para o professor começa por sentir-se parte no seu chão das
decisões da escola, da sua organização administrativa e pedagógica.Respeitar as
diferenças. Se de um lado, devemos levantar a bandeira da tolerância, como um
dos princípios do ensino, o respeito às diferenças conjuga-se com esse
princípio, de modo a favorecer a unidade na diversidade, a semelhança na
dessemelhança. Decerto, o respeito às diferenças de linguagem, às variedades
lingüísticas e culturais, é a grande tarefa dos educadores do novo milênio. O
respeito às diferenças não tem sido uma prática no nosso cotidiano, mas, depois
de cinco séculos de civilização tropical, descobrimos que a igualdade passa
pelo respeito às diferenças ideológicas, às concepções plurais de vida, de
pedagogia, às formas de agir e de ser feliz dos gêneros humanos. O educador,
pois, deve ter a preocupação é reeducar-se de forma contínua uma vez que nossa
sociedade ainda traz no seu tecido social as teorias da homogeneidade para as
realizações humanas, teoria que, depois de 500 anos, conseguiu apenas reforçar
as desigualdades sociais. Nossa missão, é dizer que podemos amar, viver e ser
felizes com as diferenças, pois, nelas, encontraremos nossas semelhanças
históricas e ancestrais: é, dessa maneira, a nossa forma de dizer ao mundo que
as diferenças nunca diminuem, e sim, somam valores e multiplicam os gestos de
fraternidade e paz entre os homens.
Pela
manhã, o bom religioso, abre o livro sagrado e reflete sobre o bem e o mal. Por
um feliz amanhã, o bom professor abre a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) e aprende a conciliar o conhecimento e a humanidade.
Comentários
Postar um comentário