Os contos de fadas e o inconsciente humano: uma visão psicanalítica



O que, afinal, os contos de fadas despertam no imaginário da criança que tanto a fascina?

Para tentar responder a essa questão, vamos nos utilizar de alguns pontos da visão psicanalítica e da psicologia analítica. Segundo ambas as teorias, os contos de fadas são tão fascinantes porque simbolizam o processo que percorremos no desenvolvimento de nossa psique.

Para Freud (1978), o centro da nossa psique seria a libido, o impulso para obtenção de prazer. Esse prazer não se limita à união pelo ato sexual ou órgãos genitais. A libido evolui, passa por fases distintas, onde o prazer se concentra e é obtido de diferentes formas (fase oral, fase anal, fase fálica e fase de latência). Assim, o ser humano teria um desenvolvimento psicossexual. Nesse desenvolvimento o autor atribuiu importância bastante acentuada na relação que é estabelecida entre a criança e seus pais (complexo de Édipo).

Ainda segundo a psicanálise, o inconsciente desempenha papel principal na estruturação da psique, é o núcleo da vida psíquica. No inconsciente humano estaria todo o material reprimido pelo indivíduo, especialmente material de fundo sexual. No entanto, o inconsciente encontra formas de se expressar. Entre essas formas, podemos citar os contos de fadas e os sonhos.

Por isso, todo sonho e seus mínimos detalhes podem ser analisados e entendidos, pois mostram o que preocupa a mente inconsciente do indivíduo.

Através da análise de seus sonhos, uma pessoa pode alcançar uma compreensão muito melhor de si mesma pelo fato de entender aspectos de sua vida mental que escapam à sua observação, que estavam distorcidos ou negados – não reconhecidos antes (BETTELHEIM, 2000, p.70).

Ao entender seus sonhos e seu conteúdo inconsciente, o indivíduo conhece muito mais a si mesmo e pode entender o quanto essas necessidades, desejos e ansiedades influenciam no seu comportamento. E essa compreensão e conhecimento podem auxiliá-lo a lidar muito melhor com sua vida, obtendo mais sucesso.

Segundo a psicanálise, os contos de fadas podem ser comparados aos sonhos. Essa origem comum dos sonhos e contos de fadas também é defendida por pesquisadores de outras linhas, como Campbell (1990) e Jung (1986), embora com algumas diferenças, como apontaremos mais adiante.

Mesmo tendo uma base comum, os sonhos e contos conservam cada um as suas especificidades. Podemos dizer que os sonhos trazem a expressão do inconsciente de uma pessoa em particular. Trazem preocupações, sentimentos específicos de um indivíduo.

Já o conto é a forma imaginária que os problemas humanos mais ou menos universais alcançaram à medida que a história passou por gerações. (BETTELHEIM, 2000, p.74).  Ou seja, ao ser recontado durante séculos, essas histórias foram sendo enriquecidas com as angústias peculiares do ser humano, e não de um ser humano em particular, mas sim de toda a humanidade.


Embora não se possa precisar a origem dos contos de fadas, alguns vestígios foram encontrados a séculos antes de Cristo, de origem orientais e célticas. Após a Idade Média textos europeus fundiram-se a esses. Portanto, hoje se torna impossível precisar qual seria a versão original de um conto, tanto que foi enriquecida, por vezes simplificada e fundida com outras fontes. Apenas uma evidência parece ser unânime: todas as versões têm um fundo comum, uma origem parecida, pois essa é a única explicação para a semelhança enorme entre elas, versões encontradas em regiões muito distantes entre si, com línguas e culturas diferentes. (COELHO, 1987, p.15). Além disso, os contos não sobreviveriam tanto tempo (durante séculos apenas pela transmissão oral) se não fossem realmente significativos para o homem.

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