Vida e obra de Monteiro Lobato
Nesta linha do tempo estão
registrados fatos relevantes da vida e obra de Monteiro Lobato - ao lado de
eventos ocorridos no Brasil e no mundo - entre 1882 e 1948. As citações entre
aspas, salvo quando indicada outra fonte, referem-se às cartas do escritor para
Godofredo Rangel, seu amigo e correspondente por mais de 40 anos, compiladas no
livro A barca de Gleyre.
1882 - 1904
Primeiras letras: Lobato
estudante
· 18/4/1882 - Nasce em Taubaté, cidade
do Vale do Paraíba, no interior paulista, filho de José Bento Marcondes Lobato
e Olympia Monteiro Lobato.
· 7/5/1882 - É batizado na paróquia
local com o nome de José Renato Monteiro Lobato.
· 13/5/1888 - A Princesa Isabel assina a
Lei Áurea, que põe fim à escravidão no Brasil.
· 1889 - Monteiro Lobato ingressa no
Colégio Kennedy, em Taubaté, freqüentando depois outras instituições de ensino
da cidade, entre elas o Colégio Paulista.
· 15/11/1889 - Proclamada a república no
Brasil. O marechal Deodoro da Fonseca lidera o governo provisório.
· 1893 - Por causa das iniciais J.B.M.L.
gravadas no castão de uma bengala do pai, muda seu nome para José Bento.
· 1895 - Röntgen descobre os raios X e
Marconi inventa o telégrafo.
· No final de 1895, Lobato vem a São
Paulo fazer os exames para admissão no Curso Anexo, preparatório para o
ingresso na Faculdade de Direito. Reprovado em português, retorna a Taubaté.
Voltaria para estudar na capital em dezembro do ano seguinte.
· 8/7/1896 - Realiza-se, no Rio de
Janeiro, a primeira sessão de cinema no país.
· 20/6/1897 - É fundada a Academia
Brasileira de Letras, presidida por Machado de Assis.
· 13/6/1898 - Morre o pai de Lobato.
· 22/6/1899 - Morre sua mãe. O avô
materno, José Francisco Monteiro - visconde de Tremembé - assume a tutela de
José Bento e de suas irmãs, Esther e Judith.
· 26/1 a 2/3/1900 - Realiza os exames
para ingresso na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e é aprovado.
· 1900 - Sigmund Freud lança A
interpretação dos sonhos, obra que marca o nascimento da psicanálise.
· 7/5/1900 - Começa a funcionar a
primeira linha de bondes elétricos em São Paulo.
· 11/8 a 15/11/1901 - Lobato preside a
Arcádia, sociedade literária dos segundanistas da Faculdade de Direito, e
colabora em seu jornal com crônicas e crítica teatral.
· 1902 – Euclides da Cunha publica Os
sertões.
· 1902 – Com um grupo de amigos, alguns
deles colegas na Faculdade de Direito – Ricardo Gonçalves, Albino Camargo Neto,
Cândido Negreiros, Godofredo Rangel, Tito Lívio Brasil e Lino Moreira, entre
outros –, forma o grupo Cenáculo, também autodenominado Cainçalha, que passaria
a se reunir no Café Guarani e na república estudantil do Minarete.
· 11/3/1903 – É fundado o Centro Acadêmico XI de
Agosto, da Faculdade de Direito, e Lobato figura, desde o primeiro número, na
comissão de redatores do seu jornal, O Onze de Agosto.
· Junho de 1903 - Participa da criação
do jornal Minarete, de Pindamonhangaba, e escreve em O Povo, de Caçapava, cujo
cabeçalho vai desenhar. Nessa fase publica artigos sob os mais diversos
pseudônimos. Alguns deles: Mem Bugalho, Lobatoyewsky, Pascalon o Engraçado,
Matinho Dias, Josbem, Hélio Bruma.
· 1904 - Escreve artigos para O
Combatente, de Oscar Breves, que circula na capital paulista.
· Obtém, com o conto "Gens
ennuyeux", o primeiro lugar em concurso literário promovido pelo XI de
Agosto.
"Tentei arrancar de mim
o carnegão da literatura. Impossível. Só consegui uma coisa: adiar para depois
dos 30 o meu aparecimento. Literatura é cachaça. Vicia. A gente começa com um
cálice e acaba pau d'água na cadeia". São Paulo, 16/6/1904.
· 10/11/1904 – A população carioca
revolta-se contra a obrigatoriedade da vacinação contra varíola, determinada
por Osvaldo Cruz, diretor-geral da Saúde Pública.
· 15/12/1904 - Colação de grau na
Faculdade de Direito. No dia 24, a cerimônia de formatura.
1905 - 1910
Lobato volta ao Vale do
Paraíba
· Janeiro de 1905 – Retornando à sua
cidade natal, Lobato assina artigos de crítica de arte no Jornal de Taubaté.
· 1905 – Einstein enuncia a Teoria da
Relatividade.
· 23/5/1905 - Inicia o namoro com Maria
da Pureza de Castro Natividade, a quem sempre chamará carinhosamente de
Purezinha.
· 18/7/1905 - Apesar de sua notória
aversão a discursos, Lobato é eleito orador do Clube Recreativo de Taubaté.
"Ando com idéias dumas
coisas a Wells, em que entrem imaginação, a fantasia possível e vislumbres do
futuro - não o futuro próximo de Júlio Verne, futurinho de 50 anos, mas um
futuro de mil anos. (...) Se a terra dos meus canteiros mentais não for propícia
a essas sementinhas, então é que não estou destinado a ser o H. G. Wells de
Taubaté, e paciência". Taubaté, 17/12/1905.
· 17/12/1905 - Com Eugênio de Paiva
Azevedo, planeja "uma fábrica de doces em vidros, geléias inglesas (...).
A firma será Lobato & Paiva. E invadiremos o mercado com uma reclame
verdadeiramente americana".
· Outubro de 1906 – Lobato é nomeado
promotor público interino em Taubaté.
· 23/10/1906 – Santos Dumont voa com o
avião 14-Bis no campo de Bagatelle, em Paris.
· 1907 – Picasso e Braque exibem
pinturas cubistas em Paris. Rudyard Kipling ganha o Prêmio Nobel de Literatura.
"Estou nomeado promotor
público da comarca de Areias [município paulista próximo a Queluz, na divisa
com o Estado do Rio de Janeiro], que deve ser nalgum lugar". Taubaté,
14/4/1907.
· 1908 – O automóvel "modelo
T" sai das linhas de montagem da Ford Motor Company, fundada cinco anos
antes, e faz grande sucesso no mercado americano.
"Realizou-se ontem em
São Paulo o consórcio do nosso amigo, dr. José Bento Monteiro Lobato, nosso
distinto conterrâneo e promotor público da comarca de Areias, com a gentil
senhorita Maria Pureza Natividade, dileta filha do sr. dr. Francisco de Gouvêa
Natividade, e neta do sr. dr. Antonio Quirino de Souza e Castro". Jornal
de Taubaté, 29/3/1908.
· 7/4/1908 – É fundada no Rio de Janeiro
a Associação Brasileira de Imprensa.
· Abril de 1908 – Lobato e Purezinha
passam a lua-de-mel na praia de José Menino, em Santos (SP). De volta à capital,
ficam até o fim do mês na rua Santo Amaro, 18. Dali voltam a Areias, viajando
antes ao Rio de Janeiro, onde visitam a Exposição Nacional de 1908,
comemorativa do centenário da Abertura dos Portos.
· 1908 - Lobato traduz artigos do Weekly
Times [de Londres] para o jornal O Estado de S. Paulo, escreve para A Tribuna
[de Santos] e remete caricaturas para a revista Fon-Fon! [Rio de Janeiro].
· 3/3/1909 - Nasce em São Paulo Martha,
sua primogênita.
· Discute com Godofredo Rangel um projeto
comum de produção literária: "(...) proponho estes pontos: 1) Não haver
pressa; 2) Apurarmos a forma, de modo que os críticos exigentes não descubram
nem uma lêndea de pronome mal colocado; 3) Ler um a produção do outro,
comentar, criticar, sugerir, vetar; 4) As duas partes conformar-se-ão com as
sentenças, mas ficam com o direito de rejeitar o veto; 5) A fatura material do
livro será perfeita; prosa boa impressa em papel de embrulho vira carne seca da
fedorenta; champanha em caneca de lata vira zurrapa. (...) Sou partidário do
conto, que é como o soneto na poesia. (...) Contos com perspectivas. (...)
Contos-estopins, deflagradores das coisas, das idéias, das imagens, dos
desejos, de tudo que exista informe e sem expressão dentro do leitor".
Areias, 27/6/1909.
· 7/5/1910 - Nasce em São Paulo seu
segundo filho, a quem dá o nome de Edgard.
· 3/12/1910 - Através da lei n.º 134, a
Câmara Municipal de Taubaté concede ao "Dr. José Bento Monteiro Lobato, ou
empresa que organizar, licença para construção, uso e gozo de uma linha férrea
econômica de bitola de um metro entre trilhos, que partindo desta cidade se
dirija às divisas do município de Tremembé".
1911 - 1917
Lobato fazendeiro e
jornalista
· 27/3/1911 – Morre o Visconde de
Tremembé, seu avô. Lobato e as irmãs tornam-se herdeiros de terras na região de
Taubaté que, somadas às extensões deixadas pelo pai, ultrapassariam dois mil
alqueires (cerca de 5 mil hectares).
"O mês passado fundei
aqui um colégio (...) só para meninos ricos (...) onde só ensinem coisas de
rico - esporte, pôquer, bridge, danças, línguas vivas faladas, elegâncias,
pedantismos, etiquetas e as tinturas de literatura, ciência e arte necessárias
nas conversas de salão. (...) Em suma, ensinar aos meninos ricos o que eles vão
necessitar pela vida afora - porque não sei de maior imbecilidade do que meter
logaritmos na cabeça dum futuro herdeiro de milhões. Mas ensiná-los a ser ricos
com decência e proveito social". Taubaté, 22/6/1911.
· 26/5/1912 - Nasce em Taubaté seu
terceiro filho, Guilherme.
"A maior delícia da
minha vida de roça é justamente lidar com pintos, com perus, com bois e
cavalos, e do bípede humano só me meter com esta insuficiência mitral que é o
caboclo da roça. Mesmo assim, só lido com eles através do
"administrador", a ponte de ligação. E o caboclo ainda é a melhor
coisa da nossa terra, porque analfabeto, simples, muito mais próximo do avô
Pitecantropo do que os que usam dragonas ou cartola, e se dão ao luxo de ter
idéias na cabeça, em vez de honestíssimos piolhos". Fazenda, 19/9/1912.
· Março de 1913 – Monteiro Lobato e
Ricardo Gonçalves apresentam à Câmara Municipal de São Paulo proposta para a
construção – no lugar do Viaduto do Chá - de uma passagem coberta com dois
pavimentos, abrigando lojas e áreas de convivência, e mirantes para o Vale do
Anhangabaú, cortada por linhas de bondes elétricos.
"Parece que ando na
idade de ler memórias. Só nelas temos o que é possível de história verdadeira,
com os bas-fond e as cozinhas e copas da humanidade. A história dos
historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos
povos. (...) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos
criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (..) da humanidade". São Paulo,
9/5/1913.
"Viver a sua vida é o
supremo programa da vida. (...) alguns representantes dessa classe de
privilegiados (...) criam os deuses à sua imagem e caminham na vida como
franco-atiradores, vendo de longe o desfile dos batalhões cerrados que ao som
dos tambores da Moral e da Religião marcham suarentos para o grande destino
comum da morte. Nós também vamos para lá - mas em nenhum passo-de-ganso. (...)
O que não somos nunca é ovelha - fiel ovelha do Santo Padre, de S. M. o Rei, do
Partido, da Convenção Social, dos Códigos da Moral Absoluta, do Batalhão, de
tudo que mata a personalidade das criaturas e as transforma em números".
Fazenda, 7/6/1914.
· 28/7/1914 – O Império Austro-húngaro
declara guerra à Sérvia: começa a Primeira Guerra Mundial.
· 12/11/1914 – Publica em O Estado de S.
Paulo o artigo "Uma Velha Praga" e, em 23/12, no mesmo jornal,
"Urupês". A imagem do caboclo esboçada no primeiro texto – desprovido
de força de vontade e senso estético, feio e grotesco – é largamente ampliada
no segundo artigo, em que Lobato acentua a ignorância e a preguiça do habitante
do interior, caracterizando-o como "sacerdote da Grande Lei do Menor
Esforço", aquele que vive do que a natureza dá, sem gastar energia para
alcançar qualquer objetivo na vida. Nascia a primeira versão de Jeca Tatu,
personagem-símbolo em sua obra.
"(...) no Estado houve
uma séria discussão sobre aquele artigo "Urupês", na qual poucos
concordaram comigo totalmente, mas todos foram unânimes em que sou 'novo de
forma' e uma 'revelação'. (...) Escrevendo no Estado, consigo um corpo de 80
mil leitores, dada a circulação de 40 mil do jornal e atribuindo a média de 2
leitores para cada exemplar. Ora, se me introduzir num jornal do Rio de tiragem
equivalente, já consigo dobrar o meu eleitorado. Ser lido por 200 mil pessoas é
ir gravando o nome - e isso ajuda. (...) Para quem pretende vir com livro, a
exposição periódica do nomezinho equivale aos bons anúncios das casas de
comércio." Fazenda, 12/2/1915.
"As fábulas em
português que conheço, em geral traduções de La Fontaine, são pequenas moitas
de amora do mato - espinhentas e impenetráveis. Um fabulário nosso, com bichos
daqui em vez dos exóticos, se feito com arte e talento, dará coisa preciosa.
Fábulas assim seriam um começo de literatura que nos falta." Fazenda,
8/9/1916.
· 1917 – Revolução na Rússia: formação
do primeiro Estado socialista.
· 6/1/1917 - O Estado de S. Paulo
publica o artigo "A criação do estilo", mais tarde compilado no livro
Idéias de Jeca Tatu, em que Lobato sugere que se incorporem elementos do
folclore brasileiro nos cursos de arte, especialmente nos do Liceu de Artes e
Ofícios.
· 26/1/1917 – Sob o título
"Mitologia brasílica", em o Estadinho, edição vespertina de O Estado
de S. Paulo, dá início a uma pesquisa pioneira de opinião pública sobre o saci.
Reunindo as respostas de leitores e textos de sua autoria, Lobato organiza O
Saci-Pererê: resultado de um inquérito, seu livro de estréia, lançado no início
de 1918.
"Ando a preparar um
livro de contos - assinado Hélio Bruma - coisas antigas refeitas. A refusão
limita-se a podas, desgalhes, descascamentos - sempre 'des', isto é,
concentração. E sinto que ganham com o desbaste. Em regra somos na mocidade
extremamente excessivos, folhudos como certas árvores tão enfolhadas que não há
ver nelas a beleza maior: o tronco e o engalhamento." Fazenda, 10/5/1917.
"[Olavo] Bilac
perguntou ao Heitor de Morais [cunhado de Lobato] por que motivo eu lhe fugia
(isto é, por que o não incensava) e achou-me 'esquisito'. Acostumou-se o grande
poeta ao coro perpétuo de 'Ohs!' da rodinha do Estado. Os literatos célebres
lembram-me os políticos que jamais caem, como o Rodrigues Alves. (...) Porque
têm um nome do tamanho dum bonde amarelo e moram no andar da apoteose, acham
inadmissível que um ignaro anônimo tenha a preguiça do rapapé e por higiene
fuja ao beija-mão." Fazenda, 8/7/1917.
"Vendi a fazenda a um
senhor Alfredo Leite, de Vila Paraguassú (...). Saio daqui para Caçapava,
provisoriamente, e de lá tomarei rumo definitivo." Fazenda, 3/8/1917.
· Setembro de 1917 - Surge em Caçapava a
revista Parahyba, em que Lobato colabora com textos e ilustrações. A partir do
número três, desenha também sua capa.
"Mudo-me para S. Paulo
na próxima semana. Fico na rua Formosa 53 até tomar casa." Caçapava,
11/10/1917.
· 18/10/1917 – Com comissão julgadora
composta por Amadeu Amaral, J. Wasth Rodrigues e Monteiro Lobato, é aberta a
exposição de artes plásticas sobre o saci promovida pelo jornal O Estado de S.
Paulo.
· 17/11/1917 – O Brasil declara guerra aos
alemães.
· 20/12/1917 – Monteiro Lobato publica
no Estadinho o artigo "À propósito da exposição Malfatti", sua
crítica à mostra de pintura moderna de Anita Malfatti, inaugurada uma semana
antes. Mais tarde, sob o título "Paranóia ou mistificação?", seria
compilado em Idéias de Jeca Tatu, lançado em 1919. Estopim de sua polêmica com
os modernistas, o artigo suscitaria a solidariedade de amigos de Anita –
sobretudo Menotti del Picchia e Mario de Andrade – que passaram a culpar Lobato
por uma suposta regressão estética da pintora, ao mesmo tempo que
desqualificavam-no como crítico e renegavam suas idéias sobre arte e cultura.
1918 - 1925
Lobato editor e autor
infantil
· 1918 – Lançamento de Urupês, livro de
contos considerado a obra-prima do escritor e um clássico da literatura
brasileira.
· 18/3/1918 – Lobato inicia, no jornal O
Estado de S. Paulo, a série de artigos sobre saúde pública e saneamento,
reunidos posteriormente no livro Problema Vital, publicado no final do ano. Num
deles escreve a respeito do Jeca Tatu, criado quatro anos antes: "Está
provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie.
(...) É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte".
Concluindo que "o caipira não é assim" mas "está assim",
Lobato redefine, num tom diametralmente oposto ao dos artigos de 1914,
"Urupês" e "Uma velha praga", o perfil de seu personagem:
indolente não pela sua natureza genética ou racial, mas sim pela falta de
condições de higiene e saúde. Nascia o segundo Jeca.
· Junho de 1918 - Lobato compra a
Revista do Brasil e, paralelamente à sua redação, desenvolve uma seção
editorial na qual terão início atividades que revolucionariam a produção do
livro no país.
· 4/6/1918 - No diário coletivo de sua
garçonnière da rua Líbero Badaró, Oswald de Andrade registrou: "Lobato
esteve aqui e esqueceu as provas dos seus Urupês sobre o sofá. A Cyclone [Maria
de Lurdes Castro, que viria a se casar com Oswald], muito pimpona, atribuiu à
sua influência desnorteadora esse gesto do nosso homem do dia. Lobato,
defenda-se ou confesse que tomou Cyclomol."
"Os Urupês vão se
vendendo melhor do que esperei, e neste andar tenho de vir com a segunda edição
dentro de três ou quatro semanas. Há livrarias que no espaço duma semana
repetiram o pedido três vezes (...). O Saci-Pererê também se vende bem; estou
já só com um resto - talvez um quarto da 2ª edição. (...) A alta do papel
impede-me de lucros maiores na Revista [do Brasil] e nos livros; mesmo assim,
cada milheiro deixa líquido um conto e tanto... quando não encalha. A mim me
favoreceu muito aquela campanha pró-saneamento que fiz pelo Estado. Popularizou
muito a marca 'Monteiro Lobato'." São Paulo, 8/7/1918.
"Vou editar o Ricardo
[Gonçalves] em setembro - Ipês. Já temos, paridos pelo prelo, o [José Antonio]
Nogueira e eu; saindo você e o Ricardo, restará em estado interessante só o
Albino [Camargo] com seu tratado de psicologia. E o Cenáculo terá vencido,
hein? (...) Meu mal é curioso, Rangel. Excesso de chance. Tudo me sai
sorteado." São Paulo, 29/8/1918.
· Outubro de 1918 – A gripe espanhola
faz milhares de vítimas no Brasil. Só em São Paulo morrem 8 mil pessoas.
· 11/11/1918 – Armistício assinado entre
a Alemanha e os países aliados põe fim à Primeira Guerra Mundial.
"Fechei neste momento
um romance de Lima Barreto, Isaías Caminha. É dos tais legíveis de cabo a rabo.
Romancista de verdade. Amanhã vou assinar com ele contrato para a edição dum
livro novo, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, cujos originais já estão aqui.
A letra é infamérrima e irregularíssima. Há trechos em que o autor
positivamente cambaleia, e outros em que pára para 'destripar o mico'. Mas
quanto talento e do bom!." São Paulo, 24/11/1918.
· 1919 - Rutherford divide o átomo; em
Weimar, Alemanha, é fundada a Bauhaus, escola de arquitetura e artes aplicadas.
· 1919 - Lançamento de Cidades Mortas e
Idéias de Jeca Tatu. No primeiro, Lobato reuniu escritos do tempo de estudante
a textos que retratam a decadência das outrora ricas regiões cafeeiras. No
segundo, está compilada sua produção de crítica literária e de arte.
"A Revista [do Brasil]
cresce e engorda como bananeira, e a seção das edições toma corpo." São
Paulo, 20/2/1919.
"Já temos oficinas
próprias e problemas operários. (...) O próximo número da Revista [do Brasil]
já será impresso em nossas oficinas, com tintas nossas, tipos nossos - e verás
como melhorará de fatura." São Paulo, 4/3/1919.
· 5/3/1919 –Associado à Olegário Ribeiro
& Cia., Lobato forma a Olegário Ribeiro, Lobato & Cia., mas a
sociedade editora dura apenas alguns meses. 20/3/1919 – Em discurso proferido
no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, Rui Barbosa faz longa referência ao Jeca
Tatu. Com isso, rapidamente esgota-se a terceira edição de Urupês.
"Acaba de fazer um ano
que comprei a Revista do Brasil. (...) Entre as coisas futuras projetadas está
uma seção argentina, para lançar coisas nossas, traduzidas, no mercado de
língua espanhola, que é grande. Estamos estudando a nossa associação com a
Cooperativa Editorial Argentina e uma agência de publicidade. Iniciaremos a
série com Alencar e outros artigos já em domínio público, dando simultaneamente
uma edição em português e outra em espanhol. Os bons livros brasileiros
encontram grande saída em espanhol." 6/7/1919.
· 1920 - Lançamento de Negrinha. Segundo
Lobato, "filhote de livro (...) para fazer uma experiência: verificar se
vale mais a pena lançar ‘livros inteiros’ a 4 mil réis ou ‘meios livros’ a
2$500".
· Março de 1920 - Estréia em São Paulo a
adaptação cinematográfica do conto "Os Faroleiros", produzido pela
Sociedade de Cultura Artística Romeiros do Progresso. Direção de Antônio Leite,
com Antônio Latari e Clarinda Lopes.
"Faço livros e vendo-os
porque há mercado para a mercadoria; exatamente o negócio do que faz vassouras
e vende-as, do que faz chouriços e vende-os. (...) O público - o respeitável
público dos circos de cavalinhos - merece um pouco de atenção. Porque, afinal
de contas, Rangel, é o público que marcha com os cobres." São Paulo,
17/1/1920.
"O triunfo das nossas
edições está excedendo aos meus cálculos; desde janeiro, 12 mil volumes
vendidos: 4 mil Cidades Mortas, 4 mil Idéias de Jeca [Tatu], 3 mil Urupês e mil
Jeremias. (...) Estão a sair Sem Crime, de Papi Júnior, (...); Madame Pommery,
uma obra prima de sátira bordelenga, do Toledo Malta ou 'Hilário Tácito':
Tácito, porque aquilo é história, e Hilário porque é história alegre. (...)
Ando a colaborar no Correio da Manhã e tive convite d'O Jornal [ambos do Rio de
Janeiro]. Cinqüenta mil réis o artigo." São Paulo, 23/3/1920.
· 31/5/1920 – A revista Papel e Tinta,
em seu primeiro número, publica entrevista de Oswald de Andrade com Monteiro
Lobato.
· Junho de 1920 – Associado a Octalles
Marcondes Ferreira, Lobato funda a editora Monteiro Lobato & Cia.
· Natal de 1920 – Lançamento de A menina
do narizinho arrebitado, com capa ilustrada e cartonada, formato 29 X 22 cm, 43
páginas e desenhos coloridos de Voltolino. Primeira obra de Monteiro Lobato
para as crianças, nela surge a boneca Emília.
· 1921 - Urupês é lançado na Argentina,
em tradução de Benjamin de Garay. A revista A Novela Nacional, da Sociedade
Editora Olegário Ribeiro, publica Os Negros ou Ele e o Outro, "novela-cine
romântica, com pios de coruja, noite tempestuosa, mortes trágicas e outros
ingredientes; leitura perigosa às meninas histéricas e aos velhos cardíacos que
crêem em almas do outro mundo." Lançamento de A Onda Verde, volume que
reúne a produção jornalística de Lobato sobre as novas áreas onde o café está
em ascensão, e de Fábulas de Narizinho, para as crianças.
· Abril de 1921 – Lançamento de O Saci,
seguido de Narizinho arrebitado, edição de A menina do narizinho arrebitado
acrescida de histórias inéditas, 181 páginas, em tiragem de 50 mil exemplares e
adotada pelo governo de São Paulo para a rede escolar.
· 2/5/1921 - Monteiro Lobato inicia
colaboração na Novela Semanal, revista literária dirigida por Breno Ferraz,
lançada pela Sociedade Editora Olegário Ribeiro.
· 16/5/1921 - La Novela Semanal, de
Buenos Aires, publica Alma Negra, versão de Negrinha em espanhol.
"Recebi o Urupês em
espanhol lançado na Argentina. Bela edição. (...) Nos Estados Unidos quer
traduzi-lo Isaac Goldberg. E em França, um Julien Fauvel. Livro de sorte."
São Paulo, junho de 1921.
· 17/9/1921 – Lobato recusa-se a editar
Paulicéia Desvairada, livro em que Mario de Andrade lança as diretrizes
estéticas do modernismo.
· 1922 – Com a Marcha sobre Roma,
Mussolini chega ao poder na Itália. Vladimir K. Zworykin patenteia o
iconoscópio, invento que tornaria possível o advento da televisão.
· 1922 – Lançamento de O marquês de
Rabicó e Fábulas, livro também aprovado pela Diretoria de Instrução Pública do
Estado de São Paulo para uso didático.
· 1922 – Lobato aceita concorrer à
cadeira n.º 11 da Academia Brasileira de Letras, vaga com a morte de Pedro
Lessa. Nos EUA, Isaac Golberg dedica um capítulo à análise da obra de Monteiro
Lobato em Brazilian Literature.
· No rastro da Semana de Arte Moderna,
realizada entre 13 e 15/2/1922 no Teatro Municipal de São Paulo, Lobato inclui
no rol dos autores por ele editados alguns de seus protagonistas: Oswald de
Andrade, com Os condenados, e Menotti del Picchia, com O homem e a morte.
Detalhe: ambos com capa de Anita Malfatti.
"Mudamo-nos para a rua
Santa Efigênia 3-A - um grande armazém térreo onde adquirimos a feição normal
dos grandes negociantes de cebolas. Vendemos cebolas literárias. (...) Adeus,
rua Boa Vista 52, onde comecei como um espermatozoário! Adeus, salinha de
xadrez (...). Aquilo ainda era 'arte'. Aqui na Santa Efigênia já somos só
cebolas. O 'Monteiro Lobato & Cia' está chegando ao fim. De repente
viramos sociedade anônima ou qualquer coisa limitada, e pronto..." São
Paulo, 25/1/1922.
"A idéia da Academia
[Brasileira de Letras] falhou por birra minha. Não quis transigir com a praxe
lá - a tal praxe de implorar votos, e eles são extremamente suscetíveis nesse
ponto. (...) Ora, não há gosto em fazer parte de um grêmio de mentalidade assim
e não pedi nada a ninguém; fiz mais: mandei outra carta desistindo da minha
candidatura (...)." São Paulo, 15/2/1922.
· 25/3/1922 – É fundado o Partido
Comunista do Brasil.
· 5/7/1922 – Rebelião tenentista sacode
os quartéis do Rio de Janeiro, episódio que ficou conhecido como os 18 do Forte
de Copacabana.
· Dezembro de 1922 – A Monteiro Lobato
& Cia. amplia sua participação societária. Lobato e Octalles M.
Ferreira ganham nove sócios: Martinho Prado, José Carlos de Macedo Soares,
Paulo Prado, Alberto Seabra e Alfredo Machado, Heitor de Morais, Renato Maia,
Alfredo Costa e José Antonio Nogueira.
· 1923 – A General Motors torna-se a
maior companhia industrial do mundo.
· 1923 – Lançamento de O macaco que se
fez homem, O mundo da lua e Contos Escolhidos, adotado em estabelecimentos de
ensino.
· 1923 – Sob o título El comprador de
haciendas, uma coletânea de contos de Lobato é lançada na Espanha, em tradução
de Benjamin de Garay.
· 20/4/1923 – É fundada a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora de radiodifusão do Brasil.
· Junho de 1923 – Em carta a Lobato,
Oswald de Andrade noticia conferência que fez na mais prestigiada universidade
francesa – Jeca Tatu na Sorbonne, ironiza – a ser publicada na Revue de
l’Amerique Latine.
"(...) meti-me em
automobilismo. Comprei um Ford e já ando a perturbar o trânsito da cidade.
Ontem dei o primeiro tranco numa carroça, mas ainda não esmaguei nenhum
pedestre. Curiosa a mudança de mentalidade que o automóvel ocasiona. O pedestre
passa a ser uma raça vil e desprezível, cuja única função é atravessar as ruas.
Quem adquire auto promove-se de 'pedestre' a 'rodante' - e passa a desprezar os
miseráveis pedestres que se arrastam pelas superfícies, como lagartas."
São Paulo, 10/9/1923.
"A vendagem dos livros
tem caído; todos os livreiros se queixam - mas o público tem razão. Câmbio
infame, aperto geral, vida cara. Não há sobras nos orçamentos para a compra
dessa absoluta inutilidade chamada 'livro'. Primo vivere. (...) Estamos
refreando as edições literárias para intensificação das escolares. O bom
negócio é o didático." São Paulo, 1/12/1923.
· 1924 - Lançamento de A caçada da onça
e de Jeca Tatuzinho, ilustrado por Kurt Wiese, em que o personagem-símbolo
criado por Lobato ensina noções de higiene e saneamento às crianças. Edição do
O garimpeiro do Rio das Garças, também ilustrado por Wiese, num formato muito
próximo ao das histórias em quadrinhos. Chega ao mercado argentino a coletânea
de contos Los ojos que sangran, traduzidos por B. Sanchez-Saez.
· Abril de 1924 - A revista Lecturas, de
Buenos Aires, publica "Barba Azul", conto de Negrinha traduzido por
B. Sanchez-Saez.
· 5/7/1924 – Sob o comando do general
Isidoro Dias Lopes, os tenentes tomam São Paulo. O presidente do Estado
[governador] Carlos de Campos abandona a cidade.
· 1924 - Na rua Brigadeiro Machado, no
Brás, em prédio com 5 mil metros quadrados, Lobato monta o maior parque gráfico
da América Latina. Para dar suporte ao projeto de expansão, a Monteiro Lobato
& Cia, transforma-se, em maio desse ano, na Companhia Gráfico-Editora
Monteiro Lobato, sociedade anônima presidida por José Carlos de Macedo Soares
que reunia a nata da classe dirigente paulistana.
· Julho de 1924 - A revolução
desorganiza a vida econômica paulistana e paralisa as atividades da editora de
Lobato por dois meses. Após a retirada dos rebeldes a 27 de julho, o governo de
Artur Bernardes inicia uma série de ações repressivas, entre as quais a prisão
de Macedo Soares, presidente da Cia. Gráfico-Editora Monteiro Lobato, em 4 de
agosto, acusado de ligações com os tenentes.
· 9/8/1924 – No dia do aniversário de
Bernardes, Lobato envia carta ao presidente em que faz um balanço dos acontecimentos
e discute o sistema eleitoral vigente. Com o título "O voto secreto",
o texto transforma-se num panfleto, largamente distribuído. Artur Bernardes
reage e manda suspender todas as encomendas de livros escolares que a Companhia
Gráfico-Editora imprimia e distribuía.
· Setembro de 1924 - A Revue de
L'Amerique Latine, n.º 33, editada em Paris, publica o conto "A vingança
da peroba", extraído de Urupês e traduzido por G. Le Gentil.
· Final de 1924/início de 1925 - A saúde
financeira da Cia. Gráfico-Editora Monteiro Lobato está abalada pelas dívidas
contraídas para importação de maquinário e a empresa sofre os efeitos da seca
que castigava São Paulo, reduzindo drasticamente o fornecimento de energia
elétrica. Uma súbita mudança na política econômica do governo Bernardes
desvaloriza a moeda e suspende o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A
editora de Lobato entre em crise terminal.
· 1925 – Adolf Hitler publica Mein Kampf
(Minha luta).
· 1925 - Sob encomenda do Laboratório
Fontoura, Monteiro Lobato adapta Jeca Tatuzinho para a promoção de seus
produtos, em especial do Biotônico. Por ocasião do centenário do escritor, em
1982, esse folheto ultrapassaria a marca dos 100 milhões de exemplares.
Traduzidos por Isaac Goldberg,
quatro contos de Lobato são editados nos Estados Unidos com o título Brazilian
Short Stories, volume n.º 733 da série Little Blue Book.
"Estou a examinar os
contos de Grimm dados pelo Garnier. Pobres crianças brasileiras! Que traduções
galegais! Temos de refazer tudo isso - abrasileirar a linguagem." São
Paulo, 11/1/1925.
· Maio de 1925 – Sai o último número da
Revista do Brasil, depois de 113 edições mensais ininterruptas. Adquirida por
Assis Chateaubriand, só voltaria a circular em setembro do ano seguinte.
· Junho de 1925 - A Revue de L'Amerique
Latine, n.º 42, publica o conto "Um suplício moderno", de Urupês, em
tradução de Sérgio Milliet.
· 24/7/1925 – Monteiro Lobato e o
jurista Waldemar Ferreira dão entrada no requerimento de autofalência da
Companhia Gráfico-Editora e tem início o processo de liqüidação que se
estenderia por dois anos.
· 15/09/1925 –Realiza-se no Rio de
Janeiro a assembléia de constituição da Companhia Editora Nacional, com nove
sócios, entre eles Octalles Marcondes Ferreira. Embora à frente do
empreendimento desde o início, o nome de Lobato só figurará entre os sócios no
final de 1926, época da transferência da matriz da editora para São Paulo.
· Outubro de 1925 – Em edição de 3 mil
exemplares, a Companhia Editora Nacional estréia no mercado com Meu cativeiro
entre os selvagens do Brasil, com as narrativas de Hans Staden, náufrago alemão
que em 1550 foi aprisionado pelos tupinambás.
1925 - 1927
Lobato no Rio de Janeiro
"Fiz leilão da minha
casa em São Paulo e montei outra aqui - rua Professor Gabizo 97. Vida nova,
tudo novo. Não quero nada que lembre o passado. Quem vive a olhar para o
passado é como quem caminha de calcanhares para a frente." Rio, 8/11/1925.
· 1926 - Monteiro Lobato publica em O
Jornal, do Rio de Janeiro, uma série de artigos sobre Henry Ford. Vertidos para
o inglês, seriam editados no opúsculo "How Henry Ford is regarded in
Brazil".
· Março de 1926 - Lobato concorre
novamente e perde a eleição na Academia Brasileira de Letras.
"Aborreci-me de
escrever n'O Jornal por causa da letrinha miúda e dos erros de revisão.
Passei-me para A Manhã do Mario Rodrigues, que está com a maior tiragem do
Brasil. Cada número é um estouro de bomba. Mando-te alguns artigos. O
"Pátio dos Milagres" doeu e fez que o governo pensasse em assistir
aos pobres. Estava uma vergonha a mendicância nas ruas. (...)"
"Fui traduzido na Síria
por E. Kouri; na Alemanha por Fred Sommer; na França por Duriau. E como de
muito tempo ando com a Espanha e a Argentina no papo, já apareci em seis
países. Quer dizer que só fali comercialmente." Rio, 7/5/1926.
· 20/3/1926 – O Diário de São Paulo
publica o artigo "O nosso dualismo" em que Lobato, referindo-se ao
modernismo, afirma: "Essa brincadeira de crianças inteligentes (...) vai
desempenhar uma função muito séria em nossas letras. Vai forçar-nos a uma
atenta revisão de valores e apressar o abandono de duas coisas a que andamos
aferrados: o espírito da literatura francesa e a língua portuguesa de
Portugal".
· 13/5/1926 – Pelas páginas do
suplemento paulista do jornal A Manhã, Mario de Andrade refuta o artigo "O
nosso dualismo" com o texto "Post-Scriptum Pachola". Ao final,
"com o coração sangrando e os olhos mojados de lágrimas" , anuncia a
morte de Lobato. Mais um capítulo da polêmica com os modernistas.
· Agosto de 1926 - A Revue de L'Amerique
Latine, n.º 56, publica "Meu conto de Maupassant", de Urupês, vertido
para o francês por Jean Duriau.
· 5/9 a 1/10/1926 – O jornal A Manhã
lança com grande estardalhaço o folhetim O choque das raças, publicado sob a
forma de livro pela Companhia Editora Nacional no Natal do mesmo ano, com
tiragem de 16 mil exemplares.
· Seu único romance e tendo como temática
um evento futurista – as eleições nos EUA em 2228- , nessa obra Lobato realiza
profunda reflexão sobre preocupações permanentes da humanidade. Discute temas
como a luta entre os sexos, conflitos raciais e injustiça social, ao mesmo
tempo que reavalia os conceitos de liberdade e dominação. Apesar da admiração
pelos EUA, coloca o dedo na ferida da desigualdade entre as raças e do perigo
do consumismo extremado daquele país.
· 1927 – Lançamento de As aventuras de
Hans Staden, adaptação de Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil para o
público infantil.
· Janeiro de 1927 – Lobato publica, em O
Jornal, do Rio de Janeiro, sob a forma de folhetim, Mister Slang e o Brasil,
que tinha como subtítulo "Colóquios com o inglês da Tijuca". Seria
lançado como livro em maio desse mesmo ano, pela Companhia Editora Nacional.
"A nossa nova empresa
editora vai com todos os ventos favoráveis. Cada edição, um triunfo. (...)
Queres ver como entre nós vão as coisas evoluindo e como está ficando yankee a
nossa técnica editora? Anos atrás, na velha companhia, quando tirávamos de uma
obra 3.000, todo mundo achava que era arrojo. Pois hoje começamos muitas com
10.000 (...). E soltamos a avalanche de papel sobre o público como se fosse uma
droga de farmácia, um Biotônico. Anúncios, circulares, cartazes, o diabo. O
público tonteia, sente-se asfixiado e engole tudo. (...) Editar é fazer
psicologia comercial." Rio, 7/2/1927.
· 15 e 17/2/1927 - La Revue Nouvelle
publica na França o Imposto Único, texto de Lobato traduzido por Jean Duriau.
1927 - 1931
Lobato em Nova Iorque
· 25/5/1927 – Nomeado pelo presidente
Washington Luís, Lobato embarca no navio American Legion com destino a Nova
Iorque, onde assumiria o cargo de adido comercial.
"Ao chegar (...), quem
encontro no cais de Hoboken? O agente geral da Ford em New York. Abordou-me,
deu cartão e disse que tinha ordem de Mr. Ford para receber-me e facilitar-me
tudo. Foi ótimo porque vim com bagagem enorme (...). Levou-me para o hotel numa
Lincoln e guardou meus caixões no depósito da companhia até que eu alugasse
este apartamento. Tome nota: 205 - 24th Street - Jackson Heights, L. I. - New
York City - USA." Nova Iorque, 17/8/1927.
· No extremo sul da ilha de Manhattan,
de frente para a Battery Place, a sala 241 do Whitehall Building abrigava o
escritório comercial do consulado brasileiro em Nova Iorque, e de lá Lobato
pôde ver o Brasil com novos olhos.
· Agosto de 1927 – Envia relatório ao
ministro das Relações Exteriores, Otávio Mangabeira, sugerindo, entre várias
outras medidas, que o governo brasileiro reconsiderasse os altos impostos de
exportação e que, com urgência, investisse em propaganda.
· 1928 – Exibição do primeiro filme
inteiramente falado: Luzes de Nova Iorque, de Brian Foy. Alexander Fleming
descobre a penicilina.
· 1928 – É publicado Macunaíma, de Mario
de Andrade, com tiragem de 800 exemplares.
· 1928 - Lobato conhece Anísio Teixeira,
que estava em Nova Iorque cursando o Teacher’s College da Universidade de
Colúmbia. Uma grande amizade unirá esses dois apaixonados por novos métodos
pedagógicos para a educação de crianças.
· Maio de 1928 – Em companhia de
Fortunato Bulcão, um empresário brasileiro que conheceu nos EUA, Lobato visita
a Ford e a General Motors, em Detroit, e sai impressionadíssimo. Vê de perto um
novo processo siderúrgico, denominado "sponge iron", que produzia aço
a partir de fornos de baixa caloria. A nova tecnologia havia sido desenvolvida
por William H. Smith, engenheiro que trabalhara na Ford e fundara a General
Reduction Corporation, empresa detentora da patente.
· Maio de 1928 – Oswald de Andrade
publica seu "Manifesto Antropófago" no número 1 da Revista de
Antropofagia.
· Julho de 1928 - Lançamento de O
noivado de Narizinho.
"O Times de hoje
anuncia que a estação WCFW vai inaugurar comercialmente a irradiação de
imagens. O sonho que localizei em séculos futuros encontro realizado aqui. A
primeira vítima da televisão vai ser a velha e boa Saudade, que no fundo é
filha da Lentidão e da Falta de Transportes. A saudade desaparecerá do
mundo." Nova Iorque, 17/8/1928.
· Outubro de 1928 - Lançamento de O Gato
Félix. Lobato e sua família mudam-se para um apartamento na Broadway.
· Novembro de 1928 - Lançamento de
Aventuras do Príncipe e A Cara de Coruja.
· Novembro de 1928 – Sai no Rio de
Janeiro o primeiro número da revista O Cruzeiro.
· Final de 1928 – A pedido do Itamaraty,
Lobato envia minucioso balanço sobre o comércio Brasil-Estados Unidos. Dentre
os inúmeros informes, relatórios e sugestões que fez ao longo do ano,
destaca-se seu interesse por combustíveis alternativos, em particular o babaçu.
· 1928 – No centro de São Paulo o Edifício
Martinelli, o maior da América Latina, começa a ser construído. Seria
inaugurado em 1936.
· Junho de 1929 - Lançamento de O Irmão
de Pinocchio.
· 28/8/1929 - Em carta a Júlio Prestes,
Lobato transmite-lhe votos pela "vitória na campanha em perspectiva; (...)
sua política na presidência significará o que de mais precisa o Brasil:
continuidade administrativa".
· Agosto de 1929 - Lançamento de O Circo
de Escavalinho.
· Outubro/novembro de 1929 – Vítima do
crash da Bolsa de Nova Iorque, onde investira todos os seus recursos, Lobato é
obrigado a se desfazer de suas ações da Companhia Editora Nacional. Os dias
mais tumultuados do pregão são narrados num capítulo de América – os Estados
Unidos em 1929, escrito logo ao voltar. Retomando os diálogos com Mr. Slang,
nesse livro Lobato passeia pelos Estados Unidos discutindo a realidade à sua
volta, sempre fazendo contrapontos com o Brasil.
· 22/5/1930 – O dirigível alemão Graf
Zeppelin desce no Rio de Janeiro, perante 15 mil pessoas.
· Junho de 1930 - Júlio Prestes, eleito
em março, é recebido em Nova Iorque. Monteiro Lobato acompanha sua comitiva a
Washington e participa do banquete oferecido pelo presidente Herbert Hoover.
"Meus jornais matutinos
são o Time e o Sun. Minha Revista do Brasil é o American Mercury, com o
tremendíssimo Henry Mencken lá dentro. (...) O jazz me deleita, e enlevo-me nos
songs, nos Broadway hits, no perpétuo marulho oceânico desta Broadway onde
moro. (...) Estou avô, já sabes, duma americanazinha, a Joyce (...) [nascida a
24 de fevereiro, filha de Martha Lobato e J. U. Campos]." Nova Iorque,
26/6/1930.
· 6/8/1930 – Em carta "vinda dalém
túmulo", Lobato manifesta a Mario de Andrade seu interesse em intermediar
a tradução e o lançamento de Macunaíma nos EUA.
· 3/10/1930 – Explode a Revolução de 30.
Vitoriosa a 24/10, o levante armado depõe Washington Luís. Getúlio Vargas toma
posse como chefe do governo provisório a 3/11.
· Novembro de 1930 - Lançamento de A
Pena de Papagaio. Adaptação de Peter Pan, do escritor inglês J. M. Barrie.
· 6/12/1930 - Decreto assinado pelo
chefe do Governo Provisório dispensa vários funcionários do Itamaraty e
Monteiro Lobato perde seu cargo de adido comercial em Nova Iorque.
· 9/12/1930 – Ao deixar o posto, Lobato escreve
carta a Getúlio Vargas relatando as conclusões a que chegou com sua experiência
americana. Os grandes problemas nacionais – ferro, combustível e trigo – seriam
os responsáveis pela fraqueza da economia brasileira. Mas o país tinha tudo
para superá-los, bastava ter vontade política.
· Março de 1931 - Monteiro Lobato
retorna ao Brasil.
1931 - 1939
A luta de Lobato por ferro e
petróleo
· 1931 - Lobato encaminha a Getúlio
Vargas longo documento intitulado "Memorial sobre o problema siderúrgico
brasileiro", onde expõe uma vez mais a importância econômica do ferro, as
vantagens do processo Smith e historia seu esforço para que fosse implementado
no Brasil. Nas suas palavras, seria "o nosso 13 de Maio econômico",
possibilitando a exploração racional das reservas de ferro. Desanimado com a
indefinição governamental, cria em sociedade com Fortunato Bulcão o Sindicato
Nacional de Indústria e Comércio, constituído a 30/5 desse ano. Mas a empresa
não consegue superar dificuldades técnicas e políticas, e em 1933 acaba
desfeita.
· 1931 - Lançamento de Ferro, O pó de
pirlimpimpim e As reinações de Narizinho. Adaptação de Robinson Crusoé e de
Alice no país das maravilhas.
· 12/10/1931 – Inaugurado o Cristo
Redentor, no morro do Corcovado, Rio de Janeiro.
· 1932 - Lançamento de América e Viagem
ao céu. Adaptação de Contos de Andersen e Contos de Grimm. Publicado em São
Paulo o livro Die Alte Fazenda, com contos de Lobato vertidos para o alemão.
· 1932 – Conflito militar entre a
Bolívia e o Paraguai pela posse da região do Chaco, rica em petróleo.
· 8/4/1932 – Pelo decreto 21.265, a
Companhia Petróleo Nacional, incorporada por Monteiro Lobato, Lino Moreira e
Edson de Carvalho, entre outros, é autorizada a funcionar e será responsável
pelas prospecções em Riacho Doce, Alagoas.
· 17/5/1932 – Pelo decreto 21.415, a
Companhia Petróleos do Brasil, incorporada por Monteiro Lobato, Manequinho Lopes
e L. A. Pereira de Queiroz, é autorizada a funcionar e, em agosto desse mesmo
ano, dá início às prospecções no campo de Araquá [hoje no município paulista de
Águas de S. Pedro].
· 9/7/1932 – Explode a Revolução
Constitucionalista em São Paulo.
· 10/8/1932 - Em carta-manifesto
dirigida a Waldemar Ferreira, secretário da Justiça e Segurança Pública do
Governo Constitucionalista Revolucionário de São Paulo, Lobato faz críticas ao
"militarismo federal" e considera a insurreição uma "guerra de
independência", declarando que: "São Paulo, depois da vitória, deverá
expressar-se na fórmula Hegemonia ou Separação", título que deu ao
documento.
· 7/10/1932 – Plínio Salgado cria a Ação
Integralista Brasileira.
· 1933 – O presidente norte-americano
Franklin Roosevelt introduz o New Deal, programa de reformas para dar fim à
crise econômica iniciada em 1929. Adolf Hitler torna-se primeiro ministro na
Alemanha.
· 1933 - Lançamento de Na antevéspera,
História do mundo para crianças, As caçadas de Pedrinho e Novas reinações de
Narizinho.
· 3/5/1933 – Realizadas as eleições para
a Assembléia Constituinte. Pela primeira vez no Brasil uma mulher é eleita para
a Câmara dos Deputados.
· 1934 – Sob a liderança de Mao Tsé Tung,
começa a Longa Marcha dos comunistas chineses.
[Observação: devido a
lacunas nos arquivos da Companhia Editora Nacional - relativas ao período
anterior a janeiro de 1934 e ao compreendido entre outubro de 1936 e abril de
1939 - alguns títulos de obras traduzidas por Lobato não constam desta
cronologia]
· 1934 - Lançamento de Emília no país da
gramática. Adaptação dos Contos de fadas, de Perrault. Traduções: Kim, O lobo
do mar, Pollyana, Pollyana moça, Aventuras de Huck, Jácala, o crocodilo, O homem
invisível, O Doutor Negro, A filha da neve e Diamante Negro.
· 17/7/1934 – Getúlio Vargas é eleito
presidente da República pela Assembléia Constituinte.
· Novembro de 1934 – Getúlio Vargas
oferece - e Monteiro Lobato recusa - a direção do Departamento de Propaganda e
Difusão Cultural, criado em julho daquele ano.
· 1935 - Lançamento de Contos leves,
Aritmética da Emília, Geografia de Dona Benta e História das invenções.
Traduções: A ilha das almas selvagens, Cleópatra, A ponte São Luís Rei,
História da Filosofia (com Godofredo Rangel), O grito da selva, O crime do
cassino, Scarface, Tarzan o terrível, O pequeno César e Moby Dick.
· 30/3/1935 – Lançada no Rio de Janeiro
a ANL, movimento de massas antifascista. Em 11/7 decreto de Vargas coloca a
organização na ilegalidade.
· Junho de 1935 – A Companhia Editora
Nacional publica o livro A luta pelo petróleo, de Essad Bey, em tradução de
Charlie W. Frankie revista e prefaciada por Monteiro Lobato.
· 23/11/1935 – Eclode uma rebelião em
Natal, organizada pela ANL e esmagada três dias depois. No dia 24, quartéis de
Pernambuco também se rebelavam e, no dia 27, foi a vez do 3º RI do Rio. Com o
fracasso do movimento - conhecido como Intentona Comunista - tem início um longo
período de perseguições políticas no país, com a criação de leis e tribunais de
exceção.
· 1936 – Começa a Guerra Civil
Espanhola.
· 1936 - Lançamento de Dom Quixote das
crianças e Memórias da Emília. Tradução de A ceia dos acusados.
· 3/2/1936 - Por unanimidade de votos,
Lobato é eleito para a cadeira 39 da Academia Paulista de Letras.
· Agosto de 1936 – Chega às livrarias O
escândalo do petróleo, com duas edições esgotadas nesse mesmo mês, seguidas de
mais três até o final do ano, totalizando 20 mil exemplares vendidos.
· 31/8/1936 – O Diretório Estadual da
ANL de São Paulo envia carta a Lobato aplaudindo entusiasticamente O escândalo
do petróleo.
· 1937 - Lançamento de O poço do
Visconde, Serões de Dona Benta e Histórias de Tia Nastácia e da adaptação das
Viagens de Gulliver.
· 14/8/1937 – Lobato compra a União
Jornalística Brasileira, criada três anos antes por Menotti del Picchia.
· 10/11/1937 – Tropas cercam e dissolvem
o Congresso. Getúlio Vargas anuncia o Estado Novo e entra em vigor a
Constituição da ditadura.
· 1938 – Conferência de Munique decide
pelo desmembramento da Checoslováquia.
· 1938 – Lobato escreve a peça O museu
da Emília, para ser encenada na Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo.
Lançado em Buenos Aires pelo Editorial Claridad Don Quijote de los niños, em
tradução de Benjamin de Garay. Travesuras de Naricita Respingada, Tremendas
cacerias de Pedrito, Los contos de la negra Nastacia e mais oito títulos já
haviam sido publicados pela mesma editora na Argentina.
· 10/1/1938 - Morre em São Paulo seu
filho Guilherme.
· 31/3/1938 – Em carta a Getúlio Vargas
Lobato conclama o presidente à defesa da soberania brasileira na questão do
petróleo e faz graves denúncias contra o Departamento Nacional de Produção
Mineral.
· 29/4/1938 – Criado o Conselho Nacional
do Petróleo (CNP).
· 7/7/1938 – Realiza-se a assembléia de constituição
da Companhia Matogrossense de Petróleo, incorporada por Monteiro Lobato, Vítor
do Amaral Freire e Octalles Marcondes Ferreira, entre outros. Fará prospecções
em Porto Esperança, região do município de Corumbá, no coração do Pantanal, em
área vizinha aos ricos territórios petrolíferos do Chaco.
· 1939 - Lançamento de O Picapau Amarelo
e O Minotauro. Traduções: Rumo às estrelas, Evolução da física e Os grandes
pensadores.
· 22/1/1939 – No poço de Lobato
[localizado num subúrbio de Salvador, Bahia, em terras que no século XVI
pertenceram ao fazendeiro Vasco Rodrigues Lobato, de onde se originou sua
denominação], é descoberto oficialmente o petróleo no Brasil.
· 1/9/1939 – Adolf Hitler invade a
Polônia e, dois dias depois, a Inglaterra e a França declaram guerra à
Alemanha. Tem início a Segunda Guerra Mundial.
· 27/12/1939 – É criado o Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), encarregado da censura aos meios de comunicação
e da propaganda oficial do Estado Novo.
1940 - 1944
Lobato na mira da ditadura
· 1940 - Lançamento de Contos pesados.
Traduções: História do futuro, A formação da mentalidade, História da bíblia e
A epopéia americana.
"Continuo traduzindo. A
tradução é minha pinga. Traduzo como o bêbedo bebe: para esquecer, para
atordoar. Enquanto traduzo, não penso na sabotagem do petróleo." São
Paulo, 15/4/1940.
· 24/5/1940 – Em nova carta a Getúlio
Vargas, Lobato reitera suas denúncias e acusa o Conselho Nacional do Petróleo
de agir a favor dos "interesses do imperialismo da Standard Oil e da Royal
Dutch", perpetuando "a nossa situação de colônia americana dos
trustes internacionais". Na mesma ocasião, e nos mesmos termos, envia
carta ao general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, em que diz:
"sou obrigado a continuar na campanha [do petróleo], não mais pelo livro
ou pelos jornais, porque já não temos a palavra livre, e sim por meio de cartas
aos homens do poder".
· 22/8/1940 – O general Júlio Caetano
Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional do Petróleo, remete um longo
ofício a Vargas no qual relata sua versão dos fatos, que "falam mais claro
que a arenga do Sr. Monteiro Lobato".
· 30/12/1940 – A rádio BBC, de Londres,
irradia em diversos idiomas artigo-entrevista em que Lobato faz uma
retrospectiva do regime republicano no país, "caracterizado pela
progressiva restrição das liberdades civis e da garantia de direitos".
Afirmando a admiração dos brasileiros pelos ingleses – justamente na época em
que Vargas flertava com a Alemanha e o nazifascismo–, o escritor investe contra
a tirania e a figura de um "Ditador Total", numa clara alusão a
Getúlio e ao Estado Novo.
· 1941 - Lançamento de A reforma da
natureza e O espanto das gentes. Traduções: Lágrimas de homem, O livro da
jangal, Por quem os sinos dobram e Educação e vida perfeita.
· Janeiro de 1941 – O governo funda a
Companhia Siderúrgica Nacional e inicia a construção da Usina de Volta Redonda.
· 6/1/1941 – Com base em ofício enviado
pelo general Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional de Petróleo,
alegando "injurioso ataque ao Chefe da Nação, ao Departamento Nacional da
Produção Mineral" e ao CNP lançado por Lobato, "pela conduta que
tiveram ou tem tido na direção da política de petróleo em nosso país", o
Tribunal de Segurança Nacional solicita ao Chefe de Polícia de São Paulo a
abertura de inquérito policial.
· 27 e 28/1/1941 – Equipe da Delegacia
Especializada de Ordem Política e Social (DEOPS), acompanhada de um representante
do Ministério da Guerra junto ao Conselho Nacional de Petróleo, invade a
residência e, em seguida, o escritório de Monteiro Lobato. O escritor é levado
à DEOPS, qualificado e transferido para a Casa de Detenção (Presídio
Tiradentes), onde permanece incomunicável durante quatro dias. Em nova operação
policial, dessa vez na sede da Companhia Matogrossense de Petróleo, são
apreendidos mais documentos.
· 30/1/1941 – Conduzido novamente à
DEOPS e interrogado, Lobato assume inteira responsabilidade sobre as cartas
enviadas a Vargas e Góis Monteiro. O escritor é libertado.
· 21/2/1941 – Monteiro Lobato entra com
pedido de passaporte a fim de poder viajar à Argentina, onde pretendia editar
algumas de suas obras.
· 28/2/1941 – O Tribunal de Segurança
Nacional conclui a classificação de delito e a denúncia de Lobato,
enquadrando-o no artigo 3o, inciso 25 do Decreto-lei 431/1938 – conhecido como
Lei de Segurança Nacional – , que punia com penas de 6 meses a 2 anos de prisão
quem injuriasse "os poderes públicos, ou os agentes que o exercem, por
meio de palavras (...)".
· 15/3/1941 – O major Ibá Jobim
Meirelles, chefe de gabinete do presidente do CNP, faz chegar às mãos do
coronel Scarcela Portela, superintendente de Segurança Política e Social de São
Paulo, carta reservada alertando que acabava de ser informado da intenção de
Lobato de fugir para a Argentina via Mato Grosso.
· 18/3/1941 – O Tribunal de Segurança
Nacional decreta a prisão preventiva de Lobato. No dia seguinte o escritor é
novamente preso, levado à DEOPS e, de lá, à Casa de Detenção.
· 8/4/1941 – No primeiro julgamento, o
juiz Augusto Maynard Gomes absolve Lobato e, como era praxe, recorre à
instância superior. O escritor permanece preso. Assim que toma conhecimento do
resultado, Lobato escreve ao general Horta Barbosa e agradece: "Passei
nesta prisão, General, dias inolvidáveis, dos quais me lembrarei com a maior
saudade. Tive o ensejo de observar que a maioria dos detentos é gente de alma
muito mais limpa e nobre do que muita gente de alto bordo que anda à
solta".
· 19/4/1941 – No dia do aniversário de
Vargas, Monteiro Lobato lhe envia, da cadeia, carta em que, ironicamente,
sugere a criação de uma Companhia Nacional de Petróleo nos moldes da recém
fundada Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. E, referindo-se ao
CNP, aponta os benefícios da medida: "O general-comandante desse Conselho
e os mais membros que o compõem, caso empregados como combustível nas fornalhas
das sondas, darão para mover as máquinas por uns dois ou três dias – vantagem
que positivamente não é de se desprezar".
· 20/5/1941 – O novo julgamento do
Tribunal de Segurança Nacional reforma a primeira sentença e, por unanimidade,
condena Lobato a seis meses de prisão.
· 17/6/1941 – Após passar três meses na
cadeia, Monteiro Lobato é indultado por Getúlio Vargas. O escritor ganha a
liberdade, mas a imprensa, sob censura, é proibida de noticiar o fato.
· 28/6/1941 – Baseado em parecer do
procurador Kruel de Morais - para quem os livros do criador do Sítio do Picapau
Amarelo predispunham a "doutrinas perigosas e práticas deformadoras do
caráter" - , o Tribunal de Segurança Nacional encaminha ofício ao Chefe de
Polícia de São Paulo mandando apreender e destruir os exemplares de Peter Pan,
do escritor J. M. Barrie, adaptados por Lobato.
· Agosto de 1941 – Getúlio Vargas é
eleito para a Academia Brasileira de Letras.
· 7/12/1941 – O Japão bombardeia a base
norte-americana de Pearl Harbour.
· 1942 - Lançamento de A chave do
tamanho. Traduções: Adeus às armas, Lincoln, Somente nesse dia, Máquinas da
democracia, História da civilização e Uma folha na tempestade.
· 28/1/1942 – Em resposta ao afundamento
de navios brasileiros pelos alemães, o governo anuncia o rompimento das
relações com a Alemanha e Itália. Em 31/8 é declarado estado de guerra em todo
o território nacional.
· 1943 - Lançamento de Urupês, outros
contos e coisas e do volume comemorativo do jubileu de Urupês, ilustrado por
Paim. Traduções: Memórias (André Maurois), Piloto de guerra, Noite sem lua, A
construção do mundo, Um mundo só, Mágica em garrafas.
· 13/2/1943 - Morre em Tremembé,
município paulista vizinho a Taubaté, seu filho Edgard.
"Estou condenado a ser
o Andersen dessa terra - talvez da América Latina, pois contratei 26 livros
infantis com um editor de Buenos Aires." São Paulo, 28/3/1943.
· Maio de 1943 - Criado por Edgard
Cavalheiro e Carlos Lacerda, vai ao ar, pela Rádio Gazeta em São Paulo, o
programa No Sítio do Picapau Amarelo.
· 1944 - Lançamento de A barca de
Gleyre, última obra de Lobato na Companhia Editora Nacional. Traduções: A queda
de Paris e O nazareno. Escreve, sob encomenda do Café Jardim, Um sonho na
caverna, álbum de figurinhas ilustrado por J. U. Campos. A Editora Brasiliense
publica Os doze trabalhos de Hércules.
· Outubro de 1944 - Lobato recusa sua
indicação para a Academia Brasileira de Letras, proposta por Cassiano Ricardo e
Menotti del Picchia. "Só serei 'imortal' se puserem esse grande gênio fora
de lá a pontapés", diria, referindo-se a Getúlio Vargas.
· 1944 – Peron chega ao poder na
Argentina.
· 2/1/1944 – Por achar incoerente a
política norte-americana de apoio à ditadura Vargas, enquanto combatia na
Europa o nazifascismo, Lobato rompe com a União Cultural Brasil-Estados Unidos.
· 2/7/1944 – Parte para Itália, para
lutar junto às forças aliadas, o primeiro escalão de soldados da Força
Expedicionária Brasileira (FEB).
1945 - 1948
Os últimos tempos de Lobato
· 1945 - Lançamento de Nasino, edição
italiana de Narizinho ilustrada por Vincenzo Nicoletti.
· Janeiro de 1945 – Monteiro Lobato
integra a delegação paulista do I Congresso Brasileiro de Escritores reunido em
São Paulo. É divulgada, no encerramento, uma declaração de princípios exigindo
"legalidade democrática como garantia da completa liberdade de expressão
do pensamento" e redemocratização plena do país.
· 4/2/1945 – Churchill, Roosevelt e
Stalin realizam a Conferência de Ialta: começa a Guerra Fria.
· Março de 1945 – Após o longo período
de isolamento imposto pela censura do Estado Novo, Lobato concede entrevista ao
Diário de São Paulo, de grande repercussão.
· Maio de 1945 - A menina do narizinho
arrebitado é transformado em novela para crianças pela Rádio Globo no Rio de
Janeiro.
· 18/5/1945 – Com a rendição dos
alemães, a Segunda Guerra Mundial chega ao fim.
· 15/6/1945 - William Rex Crawford,
adido cultural da embaixada americana no Rio de Janeiro, encaminha a Walt
Disney sugestão de Luiz de Toledo Piza para que fossem incorporados temas e
personagens da obra infantil de Lobato em futuras produções de seu estúdio.
· 23/6/1945 – Lobato participa da
fundação e torna-se diretor do Instituto Cultural Brasil-URSS.
· Convidado pelo Partido Comunista para
fazer parte de sua chapa de candidatos às eleições gerais marcadas para
dezembro, declina do convite.
· 27/6/1945 – Lobato assina contrato com
a Editora Brasiliense para edição de suas Obras Completas.
· Julho de 1945 – Detonada, em caráter
experimental, a primeira bomba atômica, no deserto do Novo México. No mês
seguinte, norte-americanos lançam duas bombas atômicas sobre as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
· 15/7/1945 – Recuperando-se de
intervenção cirúrgica em que retirou um quisto no pulmão, Monteiro Lobato envia
discurso gravado de saudação a Luís Carlos Prestes para o comício realizado
pelos comunistas no Estádio do Pacaembu, São Paulo.
· 1945 - Lobato acompanha o processo de
redemocratização que sacudiu o país, culminando com o fim da ditadura do Estado
Novo e a queda de Getúlio Vargas em 29 de outubro, e mostra-se pessimista com a
perspectiva da vitória de Dutra nas eleições.
· 1946 - Lançamento da primeira série
(literatura geral) das Obras Completas pela Brasiliense, em 13 volumes. Na
Argentina, vem a público Las 12 hazañas de Hercules, pela Editorial Acteon.
· 1946 – Desenvolvido na Universidade da
Pensilvânia o primeiro cérebro eletrônico, precursor dos computadores.
· 31/1/1946 – Eleito em 2/12/1945, o
general Dutra toma posse na presidência da República.
· 12/2/1946 – Lobato torna-se sócio da
Editora Brasiliense, fundada em novembro de 1943 por Caio da Silva Prado,
Leandro Dupré, Hermes Lima, Artur Neves e Caio Prado Júnior.
· 8/6/1946 – Atraído pelos belos e
gordos bifes, pelo magnífico pão branco e fugindo da escassez que assolava o
Brasil, conforme declarou à imprensa, Monteiro Lobato embarca para a Argentina.
· 18/9/1946 – Promulgada nova
Constituição brasileira, restabelecendo a independência dos três poderes e
eleições diretas em todos os níveis.
· 3/10/1946 – Em Buenos Aires, Lobato
funda, com Manuel Barreiro, Miguel Pilato e Ramón Prieto, a Editorial Acteon.
· 1947 – Primeiro vôo supersônico;
intensificação da Guerra Fria; Plano Marshall para a reconstrução econômica da
Europa.
· 1947 - Lançamento da segunda série
(literatura infantil) das Obras Completas pela Brasiliense, com 17 volumes.
Tradução: O problema econômico de Cuba. A Editorial Vitória lança Zé Brasil, em
que Lobato, uma vez mais, reelabora seu personagem Jeca Tatu, transformando-o
em trabalhador sem terra, esmagado pelo latifúndio.
· 1947 - A Editorial Codex, de Buenos
Aires, lança uma série de livretos de armar, com textos de Lobato. Ilustrados
por Eugenio Hirsch e Carmen Hidalgo, constituíram novidade na época. Pela
Acteon seria publicado, sob o pseudônimo de Miguel P. Garcia, La nueva
Argentina, sobre o plano qüinqüenal de Perón, e, através da Americalee, 23
títulos infantis, além de uma nova edição de Urupês, traduzida por Ramon Prieto
e com selo da El Ateneo.
· 8/5/1947 – Monteiro Lobato volta ao
Brasil. Em entrevista aos repórteres que o aguardavam no aeroporto,
classificaria o governo Dutra de "Estado Novíssimo, no qual a Constituição
seria pendurada (suspensa) num ganchinho no quarto dos badulaques".
· Junho de 1947 - Diante da proibição
das atividades do Partido Comunista em todo o país, determinada pelo ministro
da Justiça, escreve para um comício de protesto a parábola do Rei Vesgo. Lido e
aclamado pela multidão reunida no Vale do Anhangabaú na noite de 18 de junho, o
texto reflete o desencanto de Lobato com a democracia restritiva do general
Dutra.
· Agosto de 1947 - Muda-se para o
apartamento cedido por Caio Prado Júnior, no último andar do prédio da Editora
Brasiliense, na rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo.
· Dezembro de 1947 - Vai a Salvador
assistir a opereta Narizinho arrebitado, de Adroaldo Ribeiro da Costa. Lobato
escreveria novo libreto para o espetáculo, considerado sua última criação infantil.
· 1948 - Participa da fundação da
revista Fundamentos; publicados os folhetos "De quem é o petróleo na
Bahia" e "Georgismo e Comunismo".
· 1948 – Criação do Estado de Israel;
primeira guerra árabe-israelense; formação da Organização dos Estados
Americanos; invenção do transistor; revoluções comunistas na Checoslováquia,
Polônia e Hungria.
· 2/7/1948 – Lobato concede a Murilo
Antunes Alves, da Rádio Record, sua última entrevista.
· 4/7/1948 – O criador do Sítio do Picapau
Amarelo morre, às 4 horas da madrugada, vitimado por um derrame. Após velório
na Biblioteca Municipal, seu corpo seguiu acompanhado por milhares de pessoas
para o cemitério da Consolação, onde foi sepultado na quadra 25, terreno 2.
Bibliografia:
AZEVEDO, C. L. de, CAMARGOS,
M., SACCHETTA, V. Monteiro Lobato furacão na Botocúndia.São Paulo: Editora
Senac, 1997.
BRANCO, Carlos Heitor
Castelo. Monteiro Lobato e a parapsicologia. São Paulo: Quatro Artes, 1972.
BRASIL, Padre Sales. A
literatura infantil de Monteiro Lobato ou comunismo para crianças. São Paulo:
Editora Livraria Progresso, 1957.
CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro
Lobato – Vida e obra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955, 2 vols.
LAJOLO, Marisa; CECCANTINI,
João Luís. Monteiro Lobato livro a livro. São Paulo: Edunesp, 2009.
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